cover
Tocando Agora:

USP promove encontro de gêmeos idênticos para estudar conexões que vão além da aparência; saiba como participar

William Barros, o Ticco, e Wellington Melo, o Tecco, têm 29 anos, e podem ajudar a entender como irmãos que crescem lado a lado constroem a identidade e traje...

USP promove encontro de gêmeos idênticos para estudar conexões que vão além da aparência; saiba como participar
USP promove encontro de gêmeos idênticos para estudar conexões que vão além da aparência; saiba como participar (Foto: Reprodução)

William Barros, o Ticco, e Wellington Melo, o Tecco, têm 29 anos, e podem ajudar a entender como irmãos que crescem lado a lado constroem a identidade e trajetória profissional. Arquivo pessoal Gêmeos idênticos, também chamados de monozigóticos, surgem a partir de um único óvulo fecundado que, após a concepção, se divide em duas partes. Por compartilharem praticamente o mesmo conjunto de genes, esses pares são considerados fundamentais em estudos de medicina e psicologia. A lógica por trás disso é direta: se o DNA é igual, diferenças de saúde ou comportamento tendem a ser explicadas pelo ambiente e por hábitos de vida. Agora imagine crescer sendo visto como “duas versões da mesma pessoa”. Para William Barros e Wellington Melo — ou Ticco e Tecco, como se apresentam desde a infância — essa é a rotina desde cedo: olhares curiosos no ônibus, perguntas de colegas e professores ou até confusões divertidas. “Desde os 5 anos já tinha professor tentando entender quem era quem”, lembra Tecco, rindo. O irmão completa: “É normal ver as pessoas olhando um pouco mais. Às vezes perguntam se sentimos a dor um do outro ou se já confundimos namorada.” ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 SP no WhatsApp Os irmãos de 29 anos cresceram em Osasco, na Grande São Paulo, tão parecidos que os pais precisaram usar fitinhas para identificar quem chorava de fome ou de barriga cheia. Com o tempo, vieram as diferenças: um mais impulsivo, outro mais analítico; um mais sociável, outro mais tímido; carreiras distintas, mas movidas por propósitos semelhantes. Veja os vídeos que estão em alta no g1 Ainda assim, o vínculo segue firme — mesmo morando em casas diferentes, dizem nunca ter sentido “desconexão espiritual”. “Mesmo depois de muitos anos, a gente está sempre conectado. Nunca me senti desconectado do meu irmão", diz Ticco. É justamente essa convivência que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estudam há quase uma década. O Painel USP de Gêmeos acompanha duplas como Ticco e Tecco para entender até que ponto somos moldados pelo DNA e o quanto vem do ambiente, da escola, das amizades, dos empregos e da cultura. Na próxima sexta-feira (7), o projeto promove a 10ª edição do Encontro de Gêmeos, evento online e aberto ao público com debates, documentário e bate-papos que vão da ciência à arte. A ideia é reunir gêmeos de todo o país. Inscrições podem ser feitas neste link. 👬Gêmeos monozigóticos são idênticos porque vêm do mesmo óvulo e do mesmo espermatozoide, compartilhando o mesmo DNA. Gêmeos dizigóticos, ou bivitelinos, são fraternos, vêm de dois óvulos diferentes e têm DNA diferente, podendo se parecer como irmãos normais. O painel que estuda gêmeos no Brasil Criado em 2015 pela professora Emma Otta, é o único painel de gêmeos ativo no Brasil e na América do Sul e referência internacional. “Um dos eventos que eles mais gostam é a roda de conversa. Muitos dizem ser raro trocar ideias com outras pessoas gêmeas, ou com pais de gêmeos”, explica a psicóloga Tania Kiehl Lucci, pesquisadora do Painel. Para além da conversa, que acontece das 14h às 17h30, a equipe desenvolve uma pesquisa continua com gêmeos e familiares. O trabalho consiste na coleta de dados que vão do peso ao nascer ao desempenho escolar, analisando se internações prolongadas, doenças precoces ou divisão de atenção dos pais impactam o desenvolvimento de cada irmão. “Fizemos um estudo com adultos sobre expressões faciais frente a vídeos curtos — alegria, nojo, tristeza — e estamos comparando as reações entre irmãos”, exemplifica Tania. O núcleo de pesquisa também analisa como escolas lidam com gêmeos: algumas mantêm duplas juntas, outras preferem separá-las. Estudos de Mariana de Azevedo, especialista em medicina fetal, registram expressões faciais de bebês em ultrassons 3D, cooperação em tarefas e vínculos afetivos — frequentemente tão fortes quanto os que têm com a mãe. “O que nossas pesquisas mostram, e que coincide com estudos internacionais, é que gêmeos idênticos tendem a ter interesses semelhantes e até escolhas de carreira próximas. Não é regra absoluta, mas a afinidade é mais intensa entre eles. Além disso, muitos relatam vínculos mais fortes entre si do que com outros irmãos”, afirma Tania. William Barros, o Ticco, e Wellington Melo, o Tecco, têm 29 anos, e podem ajudar a entender como irmãos que crescem lado a lado constroem a identidade e trajetória profissional. Arquivo pessoal Um estudo sueco publicado em agosto, envolvendo mais de 13 mil gêmeos e 837 mil crianças nascidas únicas, apontou que gêmeos tendem a seguir carreiras profissionais mais semelhantes entre si do que os não gêmeos. “Apesar de a gente ter mudado bastante ao longo do tempo, nunca houve um momento em que quiséssemos seguir o mesmo caminho, fazer o mesmo curso. Sempre houve admiração pelas escolhas do outro, pelos interesses que meu irmão teve, mas nunca a vontade de repetir exatamente o que ele fazia”, conta Tecco. “Mesmo com carreiras diferentes, existe algo em comum: o propósito. Ambos buscamos trabalhos que tenham um caráter mais político ou ideológico, de alguma forma. Ele atua como pesquisador na área política, eu trabalho com sustentabilidade para empresas, mas ainda assim há essa afinidade na motivação por trás do que fazemos”, completa. Hoje, Ticco é pesquisador na área de políticas públicas. Já Tecco é gestor ambiental. Ambos estudaram na USP Leste, a Each (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo). É possível ter gêmeos de pais diferentes? O ‘boom’ de gêmeos no Brasil O aumento de nascimentos de gêmeos no Brasil chamou a atenção dos pesquisadores. Um levantamento realizado pelo Painel da USP mostrou que, em um período de dez anos na cidade de São Paulo, houve crescimento de 30% nos partos gemelares. Segundo a pesquisadora Tania, o dado é inédito porque, até então, o país praticamente não sabia quem eram seus gêmeos ou sob quais condições nasciam. A alta vai na contramão da taxa de natalidade, que vem caindo a cada ano. Em 2023, o Brasil teve o menor número de nascimentos dos últimos 45 anos. No entanto, apesar desse último declínio observado nas taxas de natalidade, o número de gêmeos e trigêmeos nascidos hoje é maior do que nunca. Esta é a primeira vez que isso acontece na história — e pesquisadores estão prevendo um aumento contínuo nas taxas de gêmeos. Entre as justificativas para essa alta estão a gravidez em idade avançada e maior uso de tratamentos de fertilidade. O cenário não é exclusividade do Brasil. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, em 30 anos, houve um aumento de pelo menos 10% na incidência do nascimento de gêmeos em mais de 70 países. Em alguns casos, esse aumento chegou a 30%. Com as informações atualizadas, os estudos agora ampliam o foco para questões como idade das mães, peso, etnia e diferenças regionais. O objetivo é identificar padrões e desigualdades. A pesquisa compara gêmeos idênticos, que compartilham 100% do DNA, com fraternos, que dividem apenas metade. Assim, os cientistas conseguem medir melhor a influência da genética e do ambiente.

Fale Conosco