Caso Felca reacende debate sobre exploração e abuso sexual infantil; veja como fazer denúncias em SP
Felca é Youtuber e influenciador; Ele denunciou Hytalo Santos Youtube As denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes aumentaram 1...

Felca é Youtuber e influenciador; Ele denunciou Hytalo Santos Youtube As denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes aumentaram 195% nos últimos quatro anos no Brasil. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, o número de casos recebidos pelo Disque 100 saltou de 6.380, em 2020, para 18.826, em 2024. De acordo com o Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estado de São Paulo registrou 15.374 vítimas nos crimes de estupro em 2024. Desses casos, 76% — ou 11.681 registros — foram de estupro de vulnerável. 🔍O crime é caracterizado por relação sexual ou ato libidinoso com menor de 14 anos, ou pessoa sem capacidade de consentir devido à enfermidade, ou deficiência mental. A lei presume a vulnerabilidade, sem exigir prova de violência ou ameaça. Em nível nacional, a proporção é semelhante: 76,8% dos estupros registrados envolvem vítimas vulneráveis. Em 2024, São Paulo concentrou 18,7% de todos os casos contra vítimas do sexo feminino no país. A Safernet, ONG que atua na defesa dos direitos humanos na internet, recebeu em 2023 mais de 71 mil denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil — um aumento de 77% em relação a 2022. A discussão sobre a exploração e o abuso de crianças e adolescentes ganhou destaque nesta semana após a repercussão do vídeo publicado pelo youtuber e humorista Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, que denunciou o influenciador paraibano Hytalo Santos por exploração de menores. A coordenadora jurídica do Instituto Alana, Ana Cláudia Cifali, afirmou ao g1 que a proteção de crianças e adolescentes é responsabilidade compartilhada entre Estado, família e sociedade, incluindo empresas, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Qualquer pessoa que tenha conhecimento de alguma violência contra criança ou adolescente tem o dever de comunicar o fato imediatamente aos serviços competentes”, disse Ana Cláudia, destacando que a conscientização é o primeiro passo para combater o problema. “O vídeo do Felca ajuda a ampliar a discussão e a pressionar pela criação de mecanismos de proteção nas plataformas digitais.” Ela criticou a dificuldade de denunciar violações em redes sociais. “Para denunciar no Instagram, por exemplo, não há um caminho simples. É preciso exigir das plataformas rotas mais diretas. Hoje, a burocracia pode levar as pessoas a desistirem.” LEIA MAIS Quem é Felca, youtuber que denunciou Hytalo Santos por exploração de menores Motta diz que Câmara vai pautar projetos sobre crianças em redes sociais Polícia de SP mapeia ao menos 700 crianças vítimas de exploração sexual na internet no Brasil Ana Cláudia também ressaltou que as famílias precisam de apoio em casos de violência e defendeu a padronização de conceitos e o fortalecimento das redes de proteção. “As próprias crianças e adolescentes precisam saber quais canais usar e como a denúncia será encaminhada. O sistema de Justiça e as polícias também precisam estar preparados para atuar de forma humanizada.” Crimes online Segundo a Polícia Federal, entre janeiro de 2022 e março de 2025, foram realizadas 2.233 operações contra crimes online relacionados ao abuso sexual infantojuvenil. Apenas entre janeiro e abril deste ano, 612 foragidos por crimes sexuais contra crianças e adolescentes foram presos. No período de janeiro de 2024 a março de 2025, 113 vítimas foram resgatadas. Para violência no âmbito digital, Ana Cláudia indica o canal de denúncia da própria Safernet. O canal de denúncias da entidade funciona de forma anônima e encaminha os casos para a Polícia Civil e o Ministério Público. Para denunciar, basta acessar o site da Safernet e preencher o formulário, enviando o link, grupo, canal ou conteúdo suspeito. O sistema permite acompanhar o andamento do caso em tempo real. O sistema também permite que o usuário acompanhe, em tempo real, o andamento do processo de sua denúncia. "As próprias crianças e adolescentes precisam saber quais sãos os canais de denúncia que elas têm que usar e como que essa denúncia vai ser encaminhada. O próprio sistema de Justiça e policial tem que saber como atuar. Precisamos fortalecer essas redes, padronizar conceitos, dar respostas que sejam centralizadas e humanizadas", disse Ana Cláudia. O advogado Ariel de Castro Alves, da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da OAB, recomenda que quem testemunhar crimes digitais salve as provas. “Vídeos ou imagens de erotização de crianças devem ser registrados por meio de captura de tela e encaminhados às autoridades. Quanto mais rápida for a denúncia, maior a chance de evitar que o material seja apagado", disse ao g1. Como denunciar De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS), em São Paulo, os principais canais para denunciar exploração e abuso infantil são: Disque 100: canal 24 horas, gratuito e anônimo para denunciar violência contra crianças e adolescentes; Polícia Miliar - 190: quando a criança está correndo risco imediato; Profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, psicólogos, entre outros, precisam fazer notificação compulsória em casos de suspeita de violência. Essa notificação é encaminhada aos conselhos tutelares e à polícia; Ligue 180: voltado à violência contra mulheres, também recebe casos que envolvam crianças; Delegacias especializadas: unidades que atendem crimes contra crianças e adolescentes; Conselho Tutelar: atua na proteção e na investigação de casos de violência. Aplicativo Sabe: desenvolvido pelo Ministério dos Direitos Humanos, permite denúncias seguras feitas por crianças e adolescentes, com linguagem adaptada à faixa etária. A Seds informa que também apoia a campanha nacional “Faça Bonito. Proteja Nossas Crianças e Adolescentes”, de combate ao abuso e à exploração sexual. Projetos no Congresso O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), anunciou que vai pautar nesta semana projetos sobre proteção de crianças nas redes sociais, após a repercussão do vídeo de Felca. Ele afirmou que a prioridade será identificar propostas mais atualizadas para votação ainda nesta semana. “O vídeo do Felca sobre a adultização das crianças chocou e mobilizou milhões de brasileiros. Esse é um tema urgente, que toca no coração da sociedade. Vamos enfrentar essa discussão e avançar na defesa das crianças”, declarou.